EDUCAR É UM ATO DE GRATIDÃO AO CRIADOR!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PATCH ADAMS: O AMOR É CONTAGIANTE


UMA INTERFACE COM O TRABALHO

DO SUPERVISOR E ORIENTADOR EDUCACIONAL

Ficha Técnica

Título: Patch Adams: o amor é contagiante.

Direção: Tom Shadvac.

Roteiro: Steve Oedekerk.

Produção: Estados Unidos, 1998, 115 min.

Gênero: Comédia dramática.

Elenco: Robin Williams, Daniel London, Monica Potter, Philip Sevmour Hoffman

Idioma: Inglês.

Sinopse Crítica

“Eu te amo sem saber como, nem quando e nem onde. Te amo simplesmente, sem complicações nem orgulho”. O trecho deste poema, extraído de uma das falas de Patch Adams, sintetiza o tema central de todo o filme: amar indistinta e indiscriminadamente a todos.

O filme em epígrafe retrata a vida do médico Hunter Adams, interpretado pelo ator Robin Williams. Após uma tentativa frustrada de suicídio em 1969, Hunter Adams se interna como voluntário em uma “Casa de Orate”, como diz Machado de Assis em O Alienista.

Todavia, Adams percebe que pouco é feito para restaurar os pacientes. É assim que, por acaso, começa ajudar alguns internos, auxiliando-os em sua recuperação. A partir de então, decide abandonar o sanatório para tornar-se médico, a fim de socorrer os necessitados e sarar os doentes. Todo médico parece ter um pouco de louco, e todo louco parece ter um pouco de médico. Seria muito bom se os médicos tivessem um pouco da loucura de Adams.

Ao sair da instituição, matricula-se na faculdade de medicina para dar início ao sonho de tornar-se um médico humanista. Na faculdade, entretanto, percebe a mesma frieza relacional presente no sanatório. Os médicos, observa Adams, tratam seus pacientes como “coisas”, “números”; falta-lhes não o amor pela ciência, mas a paixão pela vida!

Neste ponto crucial do filme, cuja ênfase desenvolve todos os demais conflitos e rupturas do personagem principal, facilmente se percebe uma crítica ao racionalismo e ao cientificismo.

Estes dois postulados da modernidade abandonaram a concepção de homem enquanto sujeito composto por feixes de emoções, crenças e utopias, e abraçaram uma das perspectivas nietzscheriana e darwinista, de que somente os fortes e capazes sobrevivem. A razão e a ciência que espoliam o indivíduo de sua afetividade, esperança, amor, justiça e utopia são perigos para a própria existência humana e sustentabilidade planetária.

As críticas existencialistas de Sartre concernentes à coisificação do homem na modernidade, e as argutas constatações do marxista Eric Hobsbawm a respeito da crise da contemporaneidade, ou da sociedade pós-industrial do sociólogo Alain Touraine, atestam uma modernidade cambaleante e presa pelos tentáculos da ganância, do individualismo e da frieza relacional, que sucateia a identidade do homem e põe em risco o planeta. Resta-nos, na perspectiva da modernidade tardia, um vazio relacional e uma grande inquietação a respeito do valor da vida humana. A verossímil constatação de Adams é a objetiva verificação dos críticos da modernidade.

Adams, contudo, diante do estado de inércia dos médicos e de outros acadêmicos, resolve agir contra o sistema que isola e particulariza o sofrimento do sujeito. Movido por um grande respeito à vida, inicia uma odisséia para conceder ao paciente alguns momentos de felicidade, satisfação e realização, mesmo que seja no instante último da vida. Para isto, emprega métodos pouco ortodoxos, no qual o sorriso, ou a gargalhada, são os eficientes remediadores do sofrimento e dor.

Particularmente neste caso, o sofrimento, a desesperança e a morte abrem espaço para reflexão. Sócrates, prestes a tomar cicuta, afirmara que a ocupação do verdadeiro filósofo é o tema da morte, a thanatologia. O poeta jacobino e pastor inglês John Donne, diante do sofrimento e morte de sua esposa, questiona o homem que se isola de seu semelhante e não considera a dor de outro a sua própria (“Nenhum homem é uma ilha”, dizia). Donne afirma em seu imortal poema: “a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. Talvez Adams fosse mais cônscio de sua mortalidade do que os seus pares. Longe de considerar-se divino, como propôs incorretamente o humanista e antropólogo, Edmund Leach, Adams parecia entender que a morte de cada paciente o aproximava mais ainda de seu divórcio com a vida. Sua humanidade, talvez, procedesse desta insofismável constatação.

Apesar da invectiva e da perseguição do diretor, Adams conquista à uma os profissionais e pacientes do hospital através de seu bom-humor, humanidade e crença na pessoa humana.

Não compreendido por seus pares, que o invejam, e pelo diretor, que o persegue, apesar de ele ser o melhor aluno da turma, Adams inicia um projeto, uma espécie de “hospital solidário”, sem os entraves da burocracia e do materialismo que envolvem os tratamentos de saúde. O projeto avança até que o assassinato de sua amada por um paciente lunático faz com que Adams recue um pouco de seu projeto. A cena, até então multicolorida, é tingida de tons cinzas e outonais. A mensagem é simples: o homem é imprevisível, e, apesar do bem feito a seu favor, possui a mesma natureza do escorpião. Esta parte lembra muito bem, o grito nostálgico de São Paulo quando afirmou aos cristãos de Roma: “Quem me livrará do corpo desta morte?”, dizia a respeito de sua natureza má que é mais forte do que sua vontade. O grito agonizante do santo apóstolo encontra sua resposta em Cristo.

O filme termina com Adams se formando com louvor e brincadeiras. Fica para o telespectador a inspiração para ousar, fazer a diferença, envolver-se em projetos sociais e cuidar de seu semelhante. Afinal, somos todos de um mesmo continente, como afirmara John Donne.

Aspectos relativos à Orientação e Supervisão Educacional

Assim como Patch Adams, o orientador e supervisor educacional devem:

  • Estar cônscios de seu lugar e papel no mundo;

  • Investir em sua própria formação acadêmica e crescimento pessoal;

  • Ter um projeto e planejar sua partida, percurso e chegada;

  • Ser movido por sentimentos altruístas, humanitários e solidários que valorizem a pessoa humana e construa uma identidade positiva do sujeito;

  • Despertar e mobilizar as pessoas para a mudança e, juntos, fazerem o percurso;

  • Resgatar o direito e a cidadania das pessoas em seu entorno;

  • Ser agente de mudança e transformação;

  • Enfrentar os reveses, invejas e calúnias como necessários para testar nossa missão, visão, objetivos e comprometimento com nossos projetos.

  • Ser mediadores de uma visão fraterna, mas terminantemente crítica.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Janela da Alma: Um olhar a partir de vários olhares


Ficha Técnica

Título: A Janela da Alma.
Direção: João Jardim.
Produção: Brasil, 2001.
Ano de Lançamento: 2003.
Gravadora: Copacabana Filmes.
Elenco: José Saramago, Wim Wenders, Evgen Bavcar, Oliver Sacks, Marieta Severo, Arnaldo Godoy, etc.

Sinopse Crítica
“As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar.” Este apotegma atribuído ao inventor Leonardo da Vinci traduz adequadamente os propósitos de A Janela da Alma.
O referido documentário apresenta uma análise lírica extraída a partir da perspectiva de algumas personalidades tanto brasileiras quanto estrangeiras, portadoras de certo grau de insuficiência ocular, que descrevem o olhar sob o ponto de vista de suas profissões: artista, cineasta, escritor, fotógrafo, neurologista, músico, político, entre outras.
Trata-se do olhar dos próprios personagens a respeito de si, da vida e do outro. Neste sentido, os atores descrevem a si mesmos como portadores de certo grau de insuficiência visual e de como eles e os outros, durante a trajetória de suas vidas, “olharam” sua miopia ou cegueira.
Com tons humorísticos, dramáticos, artísticos e filosóficos, o filme tece uma perspectiva do olhar a começar por aqueles que não veem adequadamente. A obra aborda, portanto, um paradoxo: o olhar a partir de quem não vê, mas que talvez por esta razão veja com profundidade.
A profundidade desta visão, de acordo com os personagens, não foi deturpada com a poluição visual da mídia e da indústria cultural – para usar uma expressão da teoria crítica da Escola de Frankfurt.
Se vê, portanto, de modo profundo, quando somos capazes de olhar a outrem e as coisas sem as amarras dos condicionamentos sociais, que tanto afastam os homens de seus semelhantes e de sua real identidade.
O olhar condicionado rompe com o sujeito e dá espaço ao individualismo; desata a visão multidimensional do homem e ata-se à visão unidimensional, que desemboca em completo chauvinismo e niilismo, conforme sugere Pierre Weil. Logo, a construção social do olhar afeta diretamente o ser, o sujeito.
Por conseguinte, não se vê apenas com os olhos, mas com o tato, a audição, o sentir, a emoção! A leitura de si, do outro e do mundo é feita com maior profundidade quando intermediada pelos sentidos. Na visão dos entrevistados, quando falta ao sujeito à capacidade ocular, ele aprende a ver além dos estereótipos sociais, pois vê com a emoção, a alma.
Nessa perspectiva, o que falta ao olhar, sobra à imaginação. O ver o invisível é olhar através da imaginação. A imaginação, portanto, é um modo de construir a realidade. É fuga; é centro; é chegada. Parece que em certas ocasiões não se vê com os olhos físicos, mas com os da imaginação. A imaginação constrói a realidade por meio dos referenciais dos sentidos. Assim sendo, as imagens são sombras que inibem o olhar atento e profundo, uma vez que não se propõem a comunicar, mas a vender; não quer construir a história, mas esgotá-la na frivolidade do consumo.
São os excessos de imagens que impedem o indivíduo de ver e apreender as histórias que se configuram perdidas na relação com o outro. Todavia, o olhar atento e perspicaz, como afirma Michel Barat a respeito do homem moderno de Baudelaire, “extrai o eterno do transitório, liberta o poético do histórico”.
O olhar é uma forma de construir a realidade e o mundo. O fotógrafo e o cineasta veem e constroem a realidade de modo distinto, mas complementar. O primeiro registra, congela e paralisa a realidade através de sua lente, que aprisiona um recorte da realidade. O segundo impõe movimento e interpretação à realidade, que está sempre em processo de mutação e, portanto, é impossível cercear.
A tônica das entrevistas é singular e perpassa todo o filme: Não se vê corretamente enquanto o olhar não for carregado e construído pela emoção. As emoções são constructos da realidade e percepção visual.
O ver é um modo de contemplar a realidade através da visão da alma, do interior. A visão interior é considerada superior à visão ocular, pois através dela não apenas se vê, mas também se escuta.
Escutar é ver com profundidade, é ver com a alma, porque se enxerga além do invólucro subjetivo das aparências fugidias. Isto posto, excetuando o que deve ser excetuado, a visão atrapalha o olhar atento. É assim que os indivíduos privados de sua visão veem com o tato, com o toque, com a aproximação, com a mente. As imagens, portanto, constituem-se figuras criadas pelo verbo: pela essência daquilo que são em vez daquilo que se apresentam.
Transpondo o vídeo à realidade da supervisão pedagógica, tanto o supervisor quanto o pedagogo são desafiados a olhar os docentes e à comunidade escolar com “olhos hermenêuticos”, a fim de interpretar e compreender as diferenças e as relações entre professor e aluno, supervisão e docência, gestão educacional e família. Somente assim será possível um diálogo dialético-dialógico, como sugere Eustaquio Romão.

“Quem não compreende um olhar,
tampouco compreenderá uma longa explicação.”
(Mário Quintana)
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