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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Janela da Alma: Um olhar a partir de vários olhares


Ficha Técnica

Título: A Janela da Alma.
Direção: João Jardim.
Produção: Brasil, 2001.
Ano de Lançamento: 2003.
Gravadora: Copacabana Filmes.
Elenco: José Saramago, Wim Wenders, Evgen Bavcar, Oliver Sacks, Marieta Severo, Arnaldo Godoy, etc.

Sinopse Crítica
“As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar.” Este apotegma atribuído ao inventor Leonardo da Vinci traduz adequadamente os propósitos de A Janela da Alma.
O referido documentário apresenta uma análise lírica extraída a partir da perspectiva de algumas personalidades tanto brasileiras quanto estrangeiras, portadoras de certo grau de insuficiência ocular, que descrevem o olhar sob o ponto de vista de suas profissões: artista, cineasta, escritor, fotógrafo, neurologista, músico, político, entre outras.
Trata-se do olhar dos próprios personagens a respeito de si, da vida e do outro. Neste sentido, os atores descrevem a si mesmos como portadores de certo grau de insuficiência visual e de como eles e os outros, durante a trajetória de suas vidas, “olharam” sua miopia ou cegueira.
Com tons humorísticos, dramáticos, artísticos e filosóficos, o filme tece uma perspectiva do olhar a começar por aqueles que não veem adequadamente. A obra aborda, portanto, um paradoxo: o olhar a partir de quem não vê, mas que talvez por esta razão veja com profundidade.
A profundidade desta visão, de acordo com os personagens, não foi deturpada com a poluição visual da mídia e da indústria cultural – para usar uma expressão da teoria crítica da Escola de Frankfurt.
Se vê, portanto, de modo profundo, quando somos capazes de olhar a outrem e as coisas sem as amarras dos condicionamentos sociais, que tanto afastam os homens de seus semelhantes e de sua real identidade.
O olhar condicionado rompe com o sujeito e dá espaço ao individualismo; desata a visão multidimensional do homem e ata-se à visão unidimensional, que desemboca em completo chauvinismo e niilismo, conforme sugere Pierre Weil. Logo, a construção social do olhar afeta diretamente o ser, o sujeito.
Por conseguinte, não se vê apenas com os olhos, mas com o tato, a audição, o sentir, a emoção! A leitura de si, do outro e do mundo é feita com maior profundidade quando intermediada pelos sentidos. Na visão dos entrevistados, quando falta ao sujeito à capacidade ocular, ele aprende a ver além dos estereótipos sociais, pois vê com a emoção, a alma.
Nessa perspectiva, o que falta ao olhar, sobra à imaginação. O ver o invisível é olhar através da imaginação. A imaginação, portanto, é um modo de construir a realidade. É fuga; é centro; é chegada. Parece que em certas ocasiões não se vê com os olhos físicos, mas com os da imaginação. A imaginação constrói a realidade por meio dos referenciais dos sentidos. Assim sendo, as imagens são sombras que inibem o olhar atento e profundo, uma vez que não se propõem a comunicar, mas a vender; não quer construir a história, mas esgotá-la na frivolidade do consumo.
São os excessos de imagens que impedem o indivíduo de ver e apreender as histórias que se configuram perdidas na relação com o outro. Todavia, o olhar atento e perspicaz, como afirma Michel Barat a respeito do homem moderno de Baudelaire, “extrai o eterno do transitório, liberta o poético do histórico”.
O olhar é uma forma de construir a realidade e o mundo. O fotógrafo e o cineasta veem e constroem a realidade de modo distinto, mas complementar. O primeiro registra, congela e paralisa a realidade através de sua lente, que aprisiona um recorte da realidade. O segundo impõe movimento e interpretação à realidade, que está sempre em processo de mutação e, portanto, é impossível cercear.
A tônica das entrevistas é singular e perpassa todo o filme: Não se vê corretamente enquanto o olhar não for carregado e construído pela emoção. As emoções são constructos da realidade e percepção visual.
O ver é um modo de contemplar a realidade através da visão da alma, do interior. A visão interior é considerada superior à visão ocular, pois através dela não apenas se vê, mas também se escuta.
Escutar é ver com profundidade, é ver com a alma, porque se enxerga além do invólucro subjetivo das aparências fugidias. Isto posto, excetuando o que deve ser excetuado, a visão atrapalha o olhar atento. É assim que os indivíduos privados de sua visão veem com o tato, com o toque, com a aproximação, com a mente. As imagens, portanto, constituem-se figuras criadas pelo verbo: pela essência daquilo que são em vez daquilo que se apresentam.
Transpondo o vídeo à realidade da supervisão pedagógica, tanto o supervisor quanto o pedagogo são desafiados a olhar os docentes e à comunidade escolar com “olhos hermenêuticos”, a fim de interpretar e compreender as diferenças e as relações entre professor e aluno, supervisão e docência, gestão educacional e família. Somente assim será possível um diálogo dialético-dialógico, como sugere Eustaquio Romão.

“Quem não compreende um olhar,
tampouco compreenderá uma longa explicação.”
(Mário Quintana)

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